Abismo Afetivo

Gostaria de falar bonito sobre o amor, mas, tentar dês - construir a palavra amor é mais interessante e prazeroso.
O que tanto esta por trás desta palavra amor, como também da palavra felicidade?
De real nada.
Apenas ideologia e cultura, da filosofia, política, literatura, religião, artes e hoje em dia das mídias mantidas pelo dinheiro das grandes empresas.
Ideologia gera cultura.
Cultura aliena.
Aliena, pois, fica parecendo que não existe outra forma de viver ou conduzir a vida a não ser aos moldes da cultura estabelecida, do costume estabelecido pela cultura que nasceu da ideologia.
Hoje ideologia nasce de dentro dos escritórios.
Estes inventaram o mito moderno do amor, do qual todos procuram enlouquecidos e não encontram.
Correm atrás do vento diria Salomão no seu livro cético de Eclesiastes.
Que existe gente além da conta no mundo passando fome e mendigando pelas ruas, todos sabem.
Mas, outros diriam: “comida é pasto, você tem fome de que? A gente não quer só comida”. (Titãs)
A gente não quer só comida, quando temos comida.
Quando não temos comida, do que adianta o balé?
  
A partir do momento que saciamos de algo, outras fomes e necessidades aparecem.
A gente quer inteiro e não pela metade.
Eu sempre quero mais do que posso ter diria a banda Capital Inicial.
Nunca estamos satisfeitos.
Quem fez isto na gente? Este abismo.
Às vezes nas atitudes e nas ações das pessoas conseguimos perceber não um buraco, mas, um abismo afetivo.
Estas pessoas do abismo afetivo mendigam amor mais desesperadamente do que alguém que passa fome e privação de alimentos.
Quem passa fome e tem privação de alimentos acaba se adaptando a esta situação e desenvolvendo certa resistência e paciência, pois, o alimento pode não chegar e quando chegar pode não ser suficiente.
  
A pessoa que tem abismo afetivo vive no desespero e não conseguem aprender nada.
Sempre desesperada e mendigando, muitas vezes até perder a dignidade.
O abismo afetivo ninguém pode preencher, nada neste mundo pode.
Elvis Presley tinha o amor do mundo aos seus pés, não foi o suficiente.
Como uma pessoa chega a este estado afetivo?
Como elas chegam ao ponto de ficar mendigando amor por todos os cantos e para todos que cruzarem o seu caminho?
Ficam rastejando por ai, pelas baladas, pelas ruas.
Espera encontrar um grande amor até em um velório ou enterro.
Sempre olhando por todos os lados na esperança de aparecer alguém.
Acredita mesmo que pode estar na esquina do bar, na fila do cinema como diz a canção.
Tudo que fazem e por onde andam é nesta intenção, achar o amor.

Como se chega nesta situação?
Nem sempre foi assim.
Começou com o período chamado Romantismo.
Espalharam-se pelo mundo acidental e hoje estas nas mãos das grandes empresas que usam das mídias para venderem seus produtos.

Amor e felicidade são palavras opressivas que tem como objetivo fazer alguém ficar preso e na dependência de um outro, ou alguma coisa.
Na verdade o problema não esta na tal da falta de amor que alguém sente.
O problema esta na falta de uma vivência afetiva, emocional e psicológica saudável.
O primeiro lugar para isto se realizar é dentro da família, no ninho onde se nasceu.
Como esta a família hoje?
Esta vivência era comum nas famílias antigas.
Ainda mais, nas famílias mais antigas ainda, onde varias gerações conviviam juntas.
Avós, netos, filhos, primos e tios.
Antes eram grandes famílias.
Hoje em dia até a família ficou individualizada.
Quem fez isto? O progresso industrial, dinheiro.
  
Hoje as famílias, são apenas papai e mamãe, e às vezes um filho ou outro.
Quase impossível viver uma vida saudável, afetiva, emocional e psicologia nesta situação.
Não vão ter tempo, pois precisam trabalhar.
Em famílias assim, na maioria dos casos são tem um lar saudável.
Os pais não conseguem dar todo afeto, toda emoção toda resposta psicológica que os filhos precisam para não crescerem mendigos do amor.
Os pais nasceram de outra família igual.
Na época das grandes famílias não existia mendigos do amor.

Não existiam os mega apaixonados.
Os mega apaixonados são os que possuem um mega abismo afetivo.
Quanto maior é a paixão e mais louca, é o sinal perfeito do abismo afetivo.
A pessoa é extremamente pobre afetivamente.
Por isto que elas se consomem tanto na paixão, e não tem paixão que seja suficiente.
Acaba uma, esta-se louca para cair em outra.
Não precisa nem saber quem é o outro, um saber artificial é tudo que se precisa, quero mergulhar na paixão para eu existir, mereço ser feliz.
Estou apaixonado, ou seja, tenho um buraco afetivo em mim quero preencher em você, ou espero que você venha preencher.
Pobreza sentimental.

Uma vez preenchido – quando se tem sorte de achar alguém também com o mesmo abismo afetivo – sente desconforto e incomodado com aquele que lhe serviu e matou sua fome.
Pode-se até morder agora a mão que lhe alimentou, sem gratidão e culpa, naturalmente.
E vamos para outra corrida maluca atrás do amor.
Corrida esta, angustiante e atrás do vendo, do nada, como diria Salomão.

Quando alguém diz estar apaixonada por mim, saio correndo, pois sei que esta pessoa quer levar tudo que tenho e mais um pouco.
Não, muito obrigado!
Vamos ser amigos, quem sabe assim podemos chegar a algum lugar.
Palavras assim é uma balde de água fria no mega apaixonado com um abismo afetivo no peito.
Ele quer se consumir por um tempo, só isto.

Quem me dera ao menos uma vez ter de volta o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade, se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Deram-nos espelhos e vimos um mundo doente.
Muito doente Renato.


Um comentário:

ALEXANDRE WAGNER MALOSTI disse...

Parabéns Osmir... texto incrível .. coerência e lucidez.... Muito bom..